O conceito de imortalidade de Alejandro Jodorowski em “The Holy Mountain”.
“Digam adeus à Montanha Sagrada, a vida real nos espera.”
Atenção: o texto a seguir possui revelações sobre o enredo, também conhecido como spoiler entre os jovens. Está avisado.
O conceito de imortalidade é abordado por diversas religiões, culturas e também na ficção. A humanidade sempre sai em busca de uma maneira de obter a vida eterna e o constante medo da morte. Esse conceito, muito abordado na religião, é muito frequente no roteiro de A Montanha Sagrada, de Alejandro Jodorowski.
O filme conta a história de um ladrão, que em busca não só de redenção pelos seus erros, mas de libertar-se das amarras que a sociedade impõe, imediatista e consumista, se encontra com um velho sábio que vive recluso em uma torre. O velho alquimista o apresenta a um grupo de 7 pessoas influentes (cada uma representando um planeta do sistema solar) e partem em uma viagem em à Montanha Sagrada, em busca da imortalidade.
O filme, de 1973, em vias muito polêmicas por mostrar desde decepações, mutilações, animais mortos e prostituição, também tem o viés místico de abordar a alquimia, o tarot e as religiões antigas, além de referências ao cristianismo. O que, depois de muitos anos (e de muito assistir este filme), consegui entender, foi o conceito de imortalidade abordado por Jodorowski com todas as suas facetas místicas e um filme executado visualmente de forma impecável.
O ser humano sempre esteve imortalizado. Em suas pesquisas científicas, seus registros históricos. Alguns contextos permitem que alguns fatos se tornem extraordinários na visão humana. Quando Jodorowski pede para o cinegrafista um zoom out na câmera, mostrando o set de filmagem (o que pode frustrar algumas pessoas perante o real significado do filme), ele atinge justamente o seu objetivo: mostrar como estamos imortalizados através de registros históricos, sejam por fotos, filmes, textos, livros ou peças ficcionais.
“Somos imagens, sonhos, fotografias. Não devemos ficar aqui, prisioneiros. Devemos romper a ilusão, isto é magia.”
Desde os estudos de Darwin até a descoberta do australopiteco Lucy, em 1974 (um ano após o filme de Jodorowski), que foi imortalizada na cultura pop por Lucy In The Sky With Diamonds dos Beatles, música que era tocada no acampamento das expedições de Donald Johanson pela Etiópia (inclusive, John Lennon era um grande admirador de Alejandro). Jodorowski vai além do conceito de imortalidade religioso, onde os registros mostram a busca pela vida eterna por civilizações mundo à fora. Ele utiliza justamente destes registros para mostrar que a coleta de informações e armazenamento de conhecimento que mantém o ser humano imortal.
“Este é o fim da nossa aventura? Nada tem um fim. Viemos em busca do segredo da imortalidade, para sermos como deuses, e aqui estamos: mortais, mais humanos que nunca. Se não encontramos a imortalidade, ao menos encontramos a realidade. Tínhamos começado numa fábula e encontramos a vida, mas é esta a vida? Realidade? Não, este é um filme.”
Mais do que uma abordagem hermética, cheia de simbolismos, A Montanha Sagrada atinge o seu objetivo não só com o impacto visual e narrativo, mas com as premissas que colocam em xeque a real condição humana ao lidar com a constante busca pela vida eterna, não só religiosamente como historicamente. Nisso, Jodorowski pode ser considerado um deus da era contemporânea com a sua bagagem, artística e intelectual que não será esquecida com o tempo.